O pai rio deixa-se cair
sabendo que está a voltar.
O mesmo que fazemos nós,
mas nós com vertigem.
O mesmo eu que chegou aqui tantas vezes
procurando algo no fundo do bosque.
Ontem era um poeta na estrada
retratando deuses com uma velha Kodak.
Adiantei a um Chevrolet Silverado
que arrastrava um barco vikingo
chamado Uppsala.
Agora voltei a mim.
Um comboio de meia milha
atravessa o bosque
na outra beira do rio.
E quando o último vagão desaparece
cai a noite, acordando a floresta.
Eu volto à minha tenda
atravessando a densa escuridade.
No chão do caminho,
centos de mariposas
devoram o cadáver
dum animal pequeno.
Detenho-me no meio da nada
iluminando a cena com a
lanterna do telemóvel.
Então, milhares de mariposas
começam a rodear-me
como se a minha luz
fosse um oásis no meio da sede.
Apago a luz e corro uns metros
para desprender-me da nuvem de assas.
É então quando vejo uma luz pálida
à esquerda do caminho.
E, continuando com as malas ideias,
abandono o caminho como se algo me chamasse.
A luz medra aos poucos,
e um pequeno regato
corre, branco, aos meus pés.
E finalmente chego.
Há um Deus de pedra brilhante
ejaculando sem pausa
desde o começo do tempo.
Tinha que ter imaginado algo assim...
Agora estou canso
e há luz aqui...
E seguiram-me!
Mas por algum motivo as mariposas
mantêm uma distância prudencial
encerrando-me numa esfera.
Estou escrevendo isto
sentado ao lado do Deus
que olha o infinito como um totem
a ejacular sem tocar-se.
Não sei se saberei voltar.
Se lês isto suponho que todo
terá corrido bem.
Mas não quero pensar muito em ti
por medo a que o desejo
me deixe aqui, petrificado.
Penso que vou seguir a corrente
de volta ao mundo.
Garley River (West Virginia)