Quando lembro o sabor da tua carne

sempre se me crava alguma espinha.

 

  E vejo o teu perfil, inchado,

flutuar na superfície

do meu tempo,

como um peixe morto

que se desfaz comigo.

 

  Eu resisto,

sem saber porquê.

 

  Respiro passado

entre ondas de remorsos.

Como uma concha

que se aferra ao sólido.

 

  Porque o mais belo que conheço

é algo que já não existe.

 

  Algo que tenho que queimar,

como um Heróstrato anónimo

que calcina o templo 

para que desapareça o seu nome.

 

  E ver depois a minha

vida consumir-se

com acre nostalgia

de irrecuperável perda.

 

  Ou sem sentir nada...

 Já só quero esquecer-te.

 

  Preciso um mar cinzento

que me limpe

de uma puta vez por todas.

 

  Volver nascer...

Coser uma placenta

com lembranças escuras

e sangue infetado.

 

 E oxalá algum dia ninguém saiba

quem escreveu estes versos.

 

Com espinhas