A noite é uma gata sem um olho
que me mira repleta de respostas.
Eu insone, adicto a ela,
vou arrancando fios de sombra
para tecer versos tristes.
Antes dormia os dias...
Quando caia a noite,
saia com qualquer
até empapar as engivas
de palavras e álcool.
Depois, a manhã seguinte,
a minha boca era uma tumba
de promessas rotas.
Mas os dias caem agora mais pesados
e não consigo carregá-los todos.
Nem sequer o mundo
lhes sustem a mirada.
E, como uma cúpula de vidro
que se quebra,
cai a noite em gotas
como a tinta na água.
E a noite é só tinta quando chove
e eu sou só noite aqui fora.
Arrasto-me
uma e outra vez
a esta cidade.
Conto o tempo
no apodrecer
da minha língua.
E já não me deixo só pelas noites
porque não confio em mim mesmo.
A noite e a tinta